quarta-feira, 23 de março de 2022

Coincidência ou mensagem do Universo?

Tenho de partilhar convosco esta história. Um pequeno nada que aconteceu há dias, mas que não me sai da cabeça. Estava eu no quarto, a organizar gavetas de camisolas e a separar roupas para doar, quando me foi transmitida uma mensagem em forma de etiqueta. 

Mas antes disso um desabafo: faço doações de roupa regularmente. Vejo o que já me fica apertado, que ainda está em boas condições, que eu continuaria a vestir se me ficasse bem. E tenho dado a várias pessoas que sei que fazem uso dessas peças de roupa. Não dou lixo. Recuso-me. Roupas que já têm nódoas que não saem, com algum buraco irrecuperável ou outros danos, são lixo e não servem para mais ninguém.

Trabalhei durante anos numa instituição de solidariedade e sei bem o que é receber lixo. As pessoas são capazes de doar coisas inimagináveis, que já não prestam, porque acham que para os pobrezinhos e carenciados tudo serve. Eles, coitadinhos hão-de aproveitar. Não. Não vão aproveitar. Vão ficar ainda mais tristes e feridos na sua dignidade. A propósito deste tema tive várias discussões e cheguei mesmo a falar sobre isso num inquérito realizado por um jornal, junto das instituições, por altura do Natal. 

Há pouco tempo li um texto muito bem escrito, da Sofia Vieira que falava sobre isto mesmo e que vale a pena ler. As pessoas limpam a sua consciência limpando a sua casa e ficam todas satisfeitas e dizem à boca cheia que ajudaram este aquele ou aqueloutro. Deviam ter vergonha.

Terminado o desabafo, volto à minha tarefa. Estava eu a pôr roupas de parte, a pensar a quem as iria entregar, quando os meus pensamentos foram para a Ucrânia e comecei a organizar um saco de roupas que considerei adequadas a uma mulher adulta ou adolescente, para entregar daqui a algum tempo a uma ucraniana. E estava eu com este pensamento quando, ao dobrar mais uma camisola, dei por mim embasbacada a olhar para a etiqueta: "Made in Ukraine". Se tinha dúvidas sobre o destino das minhas roupas, a resposta chegou-me desta forma. Coincidência ou mensagem do Universo?



9 comentários:

  1. Que coisa! Belo recado do universo! Na certa é para alguém de lá! E, como tu, também só dou aquilo que poderia ainda usar. Lixo não é para doar. beijos, tudo de bom e que apareça logo quem dela precise! chica

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  2. Boa noite, com Paz!
    Fui voluntária num bazar para recurso de um hospital e tinha o cuidado de selecionar tudo que chegava. Tem pessoas que dão lixo mesmo.
    É pena! Ser pobre não é ser sem higiene.
    Muito bom ler seu post pois também faço doações constantes. Faz bem à alma.
    Que reine a paz na Ucrânia!
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos

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  3. Eu sou de lágrima fácil e tu sabes disso. Desde que esta guerra começou que raro é o dia que ao ver as notícias não me emociono.
    É uma revolta imensa. Pensar que um dia os nossos netos vão estudar isto na escola. É incrível ver o mundo passar por uma coisa destas em pleno sec. XXI.

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    Bluestrass

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  4. Acho que a pessoa vai gostar - de usar algo feito no seu país.

    Quanto ao desabafo acho que está a fazer juízos de valor que podem muito bem ser incorrectos.
    Sabe, por exemplo, que os contentores que pedem roupa para instituições de caridade especificam que também RECICLAM roupa?

    Há muitos anos existiu, inclusive, um documentário a expor o modos-operandi dessas instituições, onde ficou claro que se fazia dinheiro desse negócio, inclusive essas receitas é que pagavam a conta de electricidade.

    Mas posso estar mal informada também. A questão é que, se esses contentores são, tanto para receber roupa boa como má para ser reciclada, então vão sempre receber ambas. A TRIAGEM tem de ser feita por quem as apanha. Não é pedido ao público para as triar. Se fosse, então seria maravilhoso!

    Eu, por exemplo, não gosto de deitar no LIXO tecidos. Não os considero LIXO, sem valor. Já tiveram valor antes e tenho a certeza que podem ser reutilizados para outros fins. Há quem encha colchões com eles, há quem faça muito dinheiro com trapos velhos.

    O que nós precisamos, como sociedade, é de reciclar e re-utilizar tudo. Não considerar tudo LIXO e meter tudo no LIXO. Ao pensar que estamos a fazer bem, estamos é a poluir desnecessariamente.

    Cumprimentos

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    1. Esqueci de acrescentar: as pessoas, quando vão colocar roupas ou calçado nesses contentores, provavelmente estão a pensar: se não servir para alguém, serão reciclados.

      É uma forma muito limpa de tratar o ambiente.
      Resta saber se roupa em mau estado chega realmente a ir para uma estação de reciclagem ou se termina dentro de um caixote de lixo comum, junto com cascas de banana, caroços de azeitona e ossos de frango :(

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    2. Porteguesinha, eu sei bem do que estou a falar e conheço bem esses contentores. Trabalhei 17 anos numa instituição de solidariedade e diariamente recebíamos lixo. É muito triste. Quando já não serve para ninguém pode ir para o contentor de roupa pois aí as coisas são encaminhadas para reciclagem. Agora quando as pessoas se dão ao trabalho de fazer um embrulho, como se de um presente se tratasse e encontramos nesse embrulho uma boneca estragada, isso é triste. Sou adepta dos contentores para reciclagem de roupa e sou daquelas pessoas que separam todo o tipo de lixos. Mas a minha mensagem não era sobre isso. Era sobre as pessoas acharem que para o pobrezinho qualquer coisa serve.

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    3. Bom, você trabalhou nisso não lhe tiro o valor da sua experiência, claro. Eu só acho estranho porque eu fui criada com o exemplo oposto. Fazia-se questão de ter a certeza que qualquer coisa dada estava em condições. E se não tivesse dizia-se para a pessoa decidir se ainda valia a pena levar ou não. Isso de para o "pobre" qualquer coisa serve é ridículo. O "pobre" também é uma definição que precisa de novo conceito, já não se entende quem é e quem não é a menos que se conviva com as pessoas. Abraços.

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    4. O que gostaria de ver era dois contentores para roupa: um a dizer "roupa reutilizável" outro a dizer "roupa reciclável". Será que as pessoas iam achar que as suas roupas usadas com um buraquinho à frente merecem o contentor da reciclagem ou da reutilizável? Será que iam ao da reciclagem verificar se existe algo reciclável?

      Eu acharia bem fazer essa distinção de imediado mas compreendo que requer mais recursos - como espaço. E por isso mais vale vir tudo misturado e depois deixar as pessoas decidir.

      Recentemente quando existiram os refugiados do Afeganistão aqui em Londres, trabalhei num hotel onde estes estavam hospedados e foi doada muita roupa. Entre as quais, espartilhos sexys. Consegue imaginar uma mulher muçulmana a precisar de um espartilho?

      Mas cá está: a pessoa doou. Se para aquilo ou outra coisa não se sabe. Quem, numa situação de pobreza e necessidade, precisa de um espartilho? Estava bom, era novo. Não é por isso que parece desadequado como peça de roupa para dar aos pobres.

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  5. Foi uma coincidência...

    ... com uma mensagem do universo nas entrelinhas!

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