Há mais de três ou quatro anos que andava com a ideia de deixar de pintar o cabelo. Irritava-me ter de o pintar de pouco em pouco tempo, pois duas semanas depois de cada ida ao cabeleireiro, lá estavam as raízes branquinhas a chamar por mim. Não eram os brancos que me irritavam, era mesmo a "obrigação" de ter de os esconder. Mas cada vez que falava com alguém e dizia "qualquer dia deixo de pintar", ouvia sempre "epá não, ainda és muito nova" ou "nem penses nisso, vai-te envelhecer". E assim se passavam os meses e lá ia eu resignada para me submeter a nova pintura. O problema é que pinturas por cima de pinturas, acabam por estragar o cabelo e o meu estava muito fraco, a cair, muito crespo, já não parecendo nem liso, nem ondulado. Estava feio. Não sabia bem o que fazer, porque a transição para o branco não é fácil, primeiro dá um ar de desleixo, depois um ar esquisito e depois há que contar com 1001 vozes contra que nos chegam de todos os lados.
A pandemia ajudou-me. Ao vir para casa em teletrabalho e com os cabeleireiros fechados, decidi em Outubro que deixaria finalmente de pintar, a bem da saúde do meu cabelo. De lá até hoje tem sido um processo incrível, de libertação, aceitação e amor próprio. Apesar de todas as vozes discordantes, de todos os comentários depreciativos que ouvi (até da cabeleireira), segui confiante e em frente, segura da minha decisão (pelo menos até agora). Neste momento os meus brancos já me dão pelas orelhas e confesso-me orgulhosa dos meus branquinhos.
Agora, que já foram percebendo que não são só raízes por pintar, há quem me diga que até acha giro, outros que dizem que os meus brancos são muito bonitos. E são, os meus brancos são mesmo branquinhos e brilhantes, tipo prata e eu adoro. Neste momento prefiro investir o dinheiro que gastava a pintar, em bons produtos e bons cortes.
Se um dia me apetecer voltar atrás (que duvido), volto sem problema. Por agora, sei que consegui chegar até aqui porque gosto de mim, e porque não me deixei afectar pelas opiniões alheias. Fiz o que quis fazer e ainda bem. É um processo transformador, de liberdade de sermos como quisermos. Se aceitamos bem as rugas, porque não aceitamos os cabelos brancos? Porque é que isso incomoda tanto as pessoas? É um padrão estabelecido socialmente de uma maneira tão enraizada que é difícil ir contra.
Conforme li no Clube das Grisalhas (no Instagram) é um verdadeiro processo de transição. Enquanto mudamos por fora, também mudamos por dentro.
Na imagem podem ver algumas fotos que fui tirando do processo. Na rua defendi-me de olhares de desdém com barretes nos dias frios, bandoletes, lenços. Tenho outras imagens mais recentes e hei-de mostrar-vos etapas mais para a frente.
Uma coisa é certa: a felicidade de ver a verdadeira cor dos meus cabelos, já ninguém me tira!